https://revistagalileu.globo.com/noticia/2018/07/como-ayahuasca-e-outros-psicodelicos-estao-revolucionando-psiquiatria.html
Os tecidos que formam o tempo e o espaço se dissolveram ao meu redor. Eu estava em um lugar em que nenhuma dessas duas ideias fazia mais sentido. De repente, me vi de frente para uma amiga. Nós conversávamos, apesar de fisicamente eu estar em um galpão fechado na zona leste de São Paulo e ela, em Ribeirão Preto.
Finalmente, eu estava experimentando as sensações de que ela tanto falava. Pela primeira vez, sentia a força do chá de ayahuasca. E quando percebi que o tempo e o espaço não existiam da forma como eu sempre acreditei, meu estômago deu sinal de vida. No banheiro, vomitei 29 anos do que considerei serem conceitos distorcidos sobre a realidade. Foi fisicamente dolorido porque eles se agarravam à minha garganta como se tivessem unhas.
Em meio ao desconforto, brotou uma reflexão: se eu posso questionar conceitos tão rígidos quanto o tempo, então posso questionar absolutamente tudo. Me veio uma sensação de poder que eu nunca havia imaginado ser possível. Já recomposto, a única coisa que consegui fazer foi me debulhar em lágrimas e agradecer por estar vivendo o começo da minha primeira experiência psicodélica significativa.
Nas cinco horas que se seguiram, de olhos fechados, vi mandalas coloridas, fractais e flores de mil pétalas se abrindo na minha frente. Também refleti profundamente sobre um trecho do livro A Realidade Não É o que Parece (Ed. Objetiva), do físico italiano Carlo Rovelli, sobre o qual eu havia escrito meses antes: “Onde uma onda acaba? Onde ela começa? Pense nas montanhas. Onde começa uma montanha? Onde ela termina? Quanto ela continua sob a terra? São perguntas sem sentido, porque uma onda ou uma montanha não são objetos em si, são maneiras que temos de dividir o mundo para falar dele mais facilmente. Seus limites são arbitrários, convencionais, cômodos. São maneiras de organizar a informação de que dispomos, ou melhor, formas da informação de que dispomos” — exatamente como o tempo do relógio.
Para mim, estava óbvio que sob determinado ponto de vista, todos fazemos parte da mesma unidade. Somos todos um. Então, senti uma profunda compaixão por gente que eu nem conhecia direito. Meu racionalismo não estava pronto para essa constatação, mas, à medida que o chá fazia efeito, ficava cada vez mais claro: eu estava tendo uma experiência mística.
Saí de lá exaurido, mas surpreendentemente leve e estranhamente feliz. Já no táxi, ouvindo Rihanna cantar “We Found Love in a Hopeless Place”, um questionamento muito sofisticado invadiu minha mente: “Que porra foi essa que aconteceu comigo?”.
Nos nove meses seguintes, participei de mais seis experiências como aquela, todas com efeitos muito diferentes entre si. A cada novo contato com o psicodélico eu tinha mais certeza de que deveria escrever uma reportagem sobre o tema. Mas, se eu não conseguia entender a experiência, como poderia explicá-la? As descrições que fiz parecem ser só a parte que a minha consciência limitada conseguiu apreender; a maior parte (e mais interessante) sempre me escapa. É como tentar pegar fumaça com a mão.
Para mim, estava óbvio que sob determinado ponto de vista, todos fazemos parte da mesma unidade. Somos todos um. Então, senti uma profunda compaixão por gente que eu nem conhecia direito. Meu racionalismo não estava pronto para essa constatação, mas, à medida que o chá fazia efeito, ficava cada vez mais claro: eu estava tendo uma experiência mística.
Saí de lá exaurido, mas surpreendentemente leve e estranhamente feliz. Já no táxi, ouvindo Rihanna cantar “We Found Love in a Hopeless Place”, um questionamento muito sofisticado invadiu minha mente: “Que porra foi essa que aconteceu comigo?”.
Nos nove meses seguintes, participei de mais seis experiências como aquela, todas com efeitos muito diferentes entre si. A cada novo contato com o psicodélico eu tinha mais certeza de que deveria escrever uma reportagem sobre o tema. Mas, se eu não conseguia entender a experiência, como poderia explicá-la? As descrições que fiz parecem ser só a parte que a minha consciência limitada conseguiu apreender; a maior parte (e mais interessante) sempre me escapa. É como tentar pegar fumaça com a mão.
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